Filigrana Portuguesa Tradicional
A origem da filigrana remonta ao terceiro milénio antes de Cristo, na Mesopotâmia. As peças mais antigas datam de 2500 a.C. e foram descobertas nas sepulturas do UR, no atual Iraque. Na Síria, também foram descobertas algumas peças que datam aproximadamente a 2100 a.C.
Esta arte chegou à Europa com a passagem nas civilizações Grega e Romana. Aliás, a palavra "filigrana" teve origem durante o Império Romano! Prosseguiu a sua viagem pelo Médio Oriente, cruzando fronteiras desde a Índia até à China. Sendo certo que, a filigrana, nestas épocas, assumiu diferentes padrões e atividades. Durante o domínio dos romanos, a filigrana começou a aparecer na Península Ibérica. Inicialmente, era pouco desenvolvida, mas com a chegada dos povos árabes esta técnica começou a ganhar força e visibilidade, nomeadamente em Portugal.
A filigrana portuguesa é, sem dúvida, uma identidade cultural do povo, dos costumes e da tradição tipicamente portuguesa. A filigrana é inteiramente feita à mão e exige dos ourives e artesãos o mais alto grau de paciência, imaginação, habilidade e minúcia. A tudo isto está, ainda, associado um elevado poder criativo e sensibilidade artística destes artífices.
Concretamente, a filigrana é a arte de trabalhar o ouro e a prata através de delicados fios vindos destes materiais, que finamente entrelaçados acabam por formar peças elaboradas e variados modelos. Existem dois tipos de filigrana: a filigrana de aplicação, utilizada para decoração e a filigrana de integração que constrói o próprio objeto unicamente em filigrana. Os fios são torcidos, batidos e levados ao lume para ficarem moles e finos para, em seguida, puderem ser trabalhados nas mãos dos artesões.
A filigrana portuguesa representa maioritariamente a natureza, a religião e o amor:
- o mar é representado com peixes, conchas, ondas e barcos;
- a natureza é a inspiração das flores, dos trevos e das grinaldas;
- com motivos religiosos, encontramos as cruzes, como a cruz de Malta, e os relicários. Mais recentemente, as medalhas com santos, anjos e figuras religiosas;
- o amor, sem dúvida que é a inspiração de todos os corações em filigrana.
Lavradeiras da Abelheira, 22 de Setembro de 1919
Outros símbolos icónicos da nossa filigrana têm, normalmente, uma origem histórica, com enorme requinte e uma simplicidade notável, como os célebres:
- o coração minhoto ou coração de viana como também é conhecido, que representa a dedicação e culto do sagrado coração de Jesus em finais do séc.XVIII. Ainda se tornou um icónico património de Portugal e da arte da filigrana portuguesa, sendo reconhecido em todo o mundo. A cidade de Viana empresta o seu nome à peça, que se tornou, com o passar dos anos, num elemento quase indispensável nas Romarias da Nª Srª da Agonia, em colares ao peito;
- os brincos à rainha, que representa riqueza e status. O nome de "rainha" teve origem no reinado de D.Maria II (1819-1853) que usou um par de brincos numa visita a Viana do Castelo em 1852. Há quem diga que também é um símbolo de fertilidade feminina, pois é possível visualizar uma imagem muito ténue da ligação de um filho no ventre da mãe;
- as arrecadas castrejas ou argolas bambolinas, começaram por ser os brincos da população mais humilde, mas as classes mais privilegiadas, mais tarde, começaram a imitar. Na sua origem estavam as arrecadas castrejas, com inspiração no quarto crescente da lua;
- as contas de viana, são tão antigos quanto a arte da ourivesaria. As contas de Viana descendem das contas gregas: são ocas por dentro, o que as torna leves, e perfeitamente esféricas. Distinguem-se pelo fio detalhado em filigrana e por um pequeno ponto no centro. Estes típicos colares surgiram pelo facto de as mulheres, na sua época, não conseguirem comprar o colar inteiro. E, por esse motivo, iam comprando, constante as suas possibilidades, conta a conta até fazerem um fio completo.
Hoje em dia, o fabrico da filigrana em Portugal concentra-se sobretudo na zona Norte do país, nomeadamente no distrito de Gondomar e da Póvoa do Lanhoso. No Minho, a filigrana continua a estar associada a uma larga tradição: os “trajes de domingar”. O traje minhoto feminino tão conhecido mundialmente é sempre adornado com diversas peças de ouro, incluindo colares e brincos, bem vistosos, que passam de geração em geração.